SOBRE OS CICLOS

Tive uma dessas reflexões existenciais que nos tomam de súbito, quando entra-se numa espécie de espiral metafísica e um mísero detalhe faz com que (re)pensemos nas questões filosóficas mais complexas e paradoxais possíveis.

A estrutura mesma da realidade é uma espécie de tensão entre polos opostos, a vida depende desse tênue equilíbrio, cujo um único movimento desarmônico poria tudo a perder. Há nisso um ritmo pulsante subjacente e contínuo que tornam todas as coisas impermanentes. Dia/noite, frio/calor, luz/escuridão, vida/morte. A eterna dança dos ciclos. Não há nada de novo aqui, Heráclito já nos dizia sobre isso. Sob esse perpétuo movimento há, também, um segundo movimento tão sutil quanto; o de retorno a uma espécie de núcleo vital, como se a vida fosse uma ação em espiral (e/ou de círculos-concêntricos).

Esses breves conceitos me serão muito úteis ao falar sobre a poesia – que é um dos meus objetivos centrais aqui. Movimento, tensão entre opostos, retorno a si mesmo (basta ver a etimologia de verso), pulsação, harmonia e etc. Tudo isso desde o ponto de vista de um aspirante a escritor autodidata e jamais um acadêmico (embora será inevitável tratá-los aqui vez ou outra). Foi meditando sobre ciclos, seus inícios e términos e recomeços que decidi retomar este blog. Regressar as origens da minha construção enquanto escritor.

O título “Poeminhos Cult” encerrava em si – ao menos na minha cabeça – certa ironia fina, um sarcasmo capaz de ser captado por outras mentes tão sagazes (ou pretensiosas) quanto a minha. Mas há coisas que funcionam apenas na mente. Descobri com o tempo a necessidade de dar ao texto as suas próprias chaves de interpretação, deixando aqui e ali as pistas para o interlocutor se encontrar entre os detalhes subentendidos e/ou as sugestões sutis (em suma: o dito através do não-dito).

Para quem está na casa dos trinta feito eu, os blogs formaram (para utilizar um termo em voga) o nosso imaginário, carregando um apelo afetivo intenso. Toda uma geração de aspirantes a escritor moldou-se através deles, sendo quase possível afirmar tratar-se de um gênero independente. Por isso, resolvi ressuscitá-lo. Aqui é um espaço para experimentações, para as tentativas e erros, o constante aprendizado prático. Além, é claro, de ter esse aspecto de aconchego, de um lugar onde podemos expressar nossa individualidade sem receios, sem podas. E esse será o meu objetivo daqui em diante, de buscar aprimorar minha dicção num contato direto com algum interlocutor que – por ventura – esteja aberto ao diálogo.

Escrevo por sentir o frêmito em meu coração no ato mesmo da escrita.