PRÁTICA DE CONCENTRAÇÃO

Circular: um círculo e um ponto — dentro
do véu concentrar à dentes
e colar defronte — espécie de colar
celestial desd’este ponto

Eis o ponto — observá-lo atento
até esquecer-se do círculo
(e todos os pontos circundantes)
retorno à Adão por um tempo

pelo sopro pelo condão — cordão
umbilical ao Éden
pelo sopro esvaziar-se:
espécie de jejum

(origem de todos os santos)

Cultivá-lo até o pulsar em espiral
mitigar a carne — pelo sopro

círculos-concêntricos (pedra n’água)

orbitar daí: o próprio centro
em movimentos contínuos
centrípetos.

O FRUTO DE PÊNIA

i.
Dança Pênia no jardim.
Os olhos cobiçam a prudência
— deita-se Porus.

ii.
Do néctar dos deuses
(terminada a dança)
nasce Eros.

iii.
Os olhos: dois lagos
a refletir a face
e a fome de Eros.

iv.
A luz personifica Pênia
— eis a sombra aos olhos
Eros ao rés do chão.

v.
Por riachos a fome
faz enxergar miragem
— Narcisos.

vi.
Descalço Eros dança
mira o Olimpo:
suplanta a própria penúria.

A SINA DO ARTÍFICE

Fiam-se primeiro pelas mãos de Cloto,
depois Láquesis sorteia o seu quinhão
de beleza. Fia-se tecido por
tecido e tão logo vê-se o coração.

Conhece-se o artífice pelas mãos,
em sua habilidade feito as Moiras
de tricotar com toda precisão
o destino do poema em seus detalhes.

E o fado do artífice será esse
de cuidar dos detalhes desde d’antes
e deixá-los como deve ser:
às mãos de Átropos no mesmo instante.